Hangzhou, China, 03 de setembro de 2016.
Precisava de um presente para o seu chefe. Não podia perder a oportunidade de agradá-lo em seu aniversário, e, quem sabe, conseguir a promoção que há tanto esperava, já que em breve era o próprio chefe quem seria promovido e precisaria escolher seu sucessor.
Aquela loja de sapatos chamou-lhe a atenção e decidiu entrar. Explicou a situação para a vendedora e esta começou a exibir os modelos da nova coleção. Todos muito caros, infelizmente. Mas teria que fazer o sacrifício, mesmo que isso significasse uma parte considerável de seu salário do mês. Um presente como aquele iria fazer o chefe perceber que estava de fato comprometido com a Companhia e não mediria esforços para fazê-la prosperar.
- Esses aqui são da coleção passada, e em breve serão recolhidos. Por isso, estamos oferecendo bons descontos por eles, cerca de 40% do valor original.
"O chefe não aparenta ser tão vaidoso", pensou. "Mas, certamente, alguém reconhecerá este produto e o avisará do outlet".
Enquanto fazia sua ponderações mentais, percebeu que uma comitiva de homens ocidentais adentrara a loja. Farejando uma grande venda, a jovem que o atendia logo correu para se juntar aos demais colegas e, em bloco, esbanjavam cordialidade aos distintos senhores.
Em princípio, ficou irritado com a situação, mas era a chance de pensar sozinho e com mais calma sobre a difícil escolha que deveria fazer.
Enquanto pensava, ficou observando a cena na loja, mesmo sem compreender nada do que ali era falado. Não pôde deixar de perceber, contudo, que o ocidental calvo e grisalho, também não ficou satisfeito com o alto preço dos calçados que lhe eram mostrados. Um pouco insegura sobre se deveria fazer isso, a vendedora correu até o cliente indeciso e pegou o par "outlet" que havia apresentado anteriormente.
- Espere! Eu ainda não decidi se não vou querer esses sapatos!
- Por favor, senhor, perdoe-nos, mas aquele ocidental calvo e grisalho é o presidente do Brasil - falou rapidamente jovem, retornando à comitiva.
Não teve tempo de se enfurecer, pois antes que o dedo ficasse em riste, percebeu uma excelente oportunidade. Conteve a raiva e aguardou.
Os sapatos agradaram o presidente, que os calçou e já seguiu com eles para mais um compromisso diplomático.
- Você não teria outro par como aquele, teria?
- Mais uma vez, mil desculpas. Vou verificar se tenho outro.
- Tudo bem, contanto que sejam idênticos.
Ela retornou com outro par, de fato, idêntico ao anterior, e com o mesmo preço. Verificado o tamanho, decidiu levar e solicitou fosse embalado para presente.
- Por favor, escreva em um cartão: "O sapato do Presidente para o nosso futuro presidente".